Por ter sido a primeira rede de ensino a implementar o modelo, em 2018, o SESI compartilha sete ensinamentos, que vão da capacitação de docentes ao acolhimento do estudante.

Investimento na formação de professores, estratégias para troca de itinerários, foco no socioemocional e parcerias são apenas algumas das lições aprendidas pelo Serviço Social da Indústria (SESI) após os cinco anos de implementação do Novo Ensino Médio.

As mudanças na última etapa da formação básica estão previstas na Lei 13.415/2017, que tornou obrigatória a execução pelas escolas do Novo Ensino Médio em 2022. Assim como toda novidade visando à melhoria, é necessário aperfeiçoamento contínuo, principalmente no início.

Desde o projeto-piloto em cinco estados, em 2018, estudantes se formaram com competências profissionais e emocionais para a vida, para o futuro profissional e acadêmico. No ano passado, o SESI tinha mais de 28 mil jovens matriculados no novo modelo.

Por isso, depois de cinco anos de experiência, a instituição tem alguns ensinamentos a compartilhar com outras redes de ensino do país. Confira:

1. Investir nos docentes para investir no futuro

Como o Novo Ensino Médio trabalha por área de conhecimento, investir na formação dos professores é essencial. Além disso, adotar um material didático adequado à nova proposta facilita a adaptação e o trabalho dos docentes. Disciplinas que anteriormente eram trabalhadas de maneira separada, como física, química e biologia, agora são desenvolvidas por área: Ciências da Natureza e suas Tecnologias.

Por isso, os professores de cada uma dessas matérias precisam fazer um planejamento para as aulas de maneira integrada. Os estudantes compreendem em sala de aula como um conteúdo de meio ambiente pode ser trabalhado simultaneamente pela química e biologia, por exemplo. Ou de que forma os conceitos de temperatura podem ser ensinados pela física e pela matemática.

Para Rosiani Mali Módolo, coordenadora de Educação do SESI/SENAI Cacoal e Rolim de Moura (RO), o investimento na formação dos professores contribui na valorização, no engajamento e na produtividade desses profissionais. Alguns desafios que as duas unidades enfrentaram foram a compreensão dos docentes quanto à aplicabilidade dos conteúdos, que por muito tempo eram trabalhados de maneira isolada, além do próprio trabalho em equipe.

“Os professores partiram de uma realidade em que o trabalho não dependia de outro colega para o desenvolvimento de ações, aulas e projetos”, explica. “Com o tempo, eles foram percebendo que o trabalho que realizavam separadamente ganhou força de maneira conjunta.”

2. Socioemocional em sala de aula

Ajudar o estudante a se conhecer, saber mais sobre as áreas de conhecimento e fazer uma escolha mais assertiva dos itinerários deve ser uma preocupação da escola. Além dessa escolha impactar o planejamento da instituição, ela pode ter efeitos nos índices de aprendizagem e evasão, por exemplo.

Quando o estudante acerta a escolha, isso se reflete na motivação e no desempenho acadêmico. Uma estratégia, por exemplo, é trazer na grade curricular no 1º ano matérias sobre o mundo do trabalho. Conhecer a sociedade, ter diferentes perspectivas e perceber qual o seu lugar no mundo fazem o aluno escolher bem um itinerário formativo.

3. Toda mudança precisa ser apoiada

E se o estudante, no meio do caminho, mudar de escolha? Faz parte do processo de amadurecimento. O aluno estuda a base comum e escolhe uma área para se aprofundar, mas não se identifica mais. E agora?

Ao longo dos estudos, persistir num campo que não faz o olho brilhar pode gerar desmotivação. Alguns dos mecanismos são oferecer alternativas de troca ou postergar o momento da escolha do itinerário. No SESI, por exemplo, os estudantes escolhem ao final do 1º ano, já que a carga horária obrigatória é igual para todo mundo nesse primeiro momento.

Apesar disso, também é preciso oferecer condições de troca. O Ministério da Educação (MEC) estabelece, mas não determina em qual período a troca de itinerário deve ser feita. Cada escola estabelece a sua diretriz.

4. Integrar a matriz curricular da BNCC com o itinerário formativo

O conteúdo a ser ministrado, segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é aquela aprendizagem essencial para todos os alunos, deve dialogar com o currículo do itinerário formativo, de escolha do estudante. E, para isso, os docentes dos itinerários, especialmente os da formação técnica e profissional, devem conhecer e estar alinhados à matriz da BNCC e ao que está sendo desenvolvido na parte obrigatória.

Por exemplo, era comum o estudante ter contato com o conteúdo de eletricidade somente no 3º ano. Mas, se o aluno faz o itinerário de formação técnica na área de eletrotécnica ou energia, pode-se adiantar a temática para que ele consiga ir para as aulas com uma base do conhecimento. Ou não sobrepor o conteúdo. Essa foi a estratégia de adaptação adotada pelo SESI, em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

5. Portas sempre abertas

Dar amparo aos alunos que querem trocar de itinerário é fundamental, bem como acolher aqueles que vêm transferidos. Os pais mudam de cidade, o estudante muda de escola, mas os currículos das instituições, mesmo que trabalhem o Novo Ensino Médio, são diferentes.

Algumas estratégias para receber alunos em transferência são fazer um período de adaptação no contraturno ou por meio da educação a distância. A parte comum, da Base Nacional Comum Curricular, toda escola se propõe a oferecer. O que o aluno viu de itinerário na outra escola é o que muda. Ofertar possibilidades significa manter as portas da escola sempre abertas para novos estudantes.

6. Novo modelo, novas formas de avaliar

Outra lição aprendida é quanto às formas de avaliação dos estudantes. Um ensino diversificado e que coloca o aluno como protagonista também precisa de uma forma diferente de avaliar. É o que acredita Clessia Lobo, gerente executiva de Educação e Cultura do SESI Bahia.

“Não adianta diversificar a forma de ensinar e as metodologias serem ativas, se o estudante não protagonizar também o seu processo de evidenciar a aprendizagem, que é a avaliação”, reforça. Além das provas, seminários e projetos, Clessia também ressalta a utilização do portfólio que “é uma culminância de tudo o que eles estudaram, as formas de aprendizagem e os conceitos trabalhados em cada etapa”.

No portfólio, o estudante conta a sua trajetória, e o professor consegue visualizar o projeto de vida do aluno. É possível avaliar o quanto o aluno evoluiu nas competências e habilidades da área escolhida e como ele mobiliza o conhecimento para resolver um problema.

Outro ponto de atenção é quanto ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que dá entrada a diversas universidades públicas do país. A prova vai passar por mudanças, por isso, as escolas também devem adaptar simulados ou outros conteúdos preparatórios de acordo com o novo modelo.

7. Parcerias para atender a demanda dos estudantes

Colocar o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem é a chave do Novo Ensino Médio. Por isso, se a escola não tem a total capacidade de ofertar um curso técnico e essa é uma demanda dos estudantes, é possível procurar uma parceria.

Conhecer o perfil dos alunos, o que se pode fazer para ajudá-los e ofertar aquilo que eles gostariam de fazer é importante. Para isso vêm as parcerias: fornecer o que é melhor para o aluno. A instituição segue com o que tem de melhor, a formação básica, e o itinerário de Formação Técnica e Profissional fica por conta de outra instituição, especializada em educação profissional. O Brasil tem redes e instituições de excelência, como os Serviços Nacionais de Aprendizagem.

 

Da Agência de Notícias da Indústria