Centro de Inovação do SESI sediado em Porto Alegre desenvolve ferramentas para combater os fatores de riscos para transtornos mentais e comportamentais
Cerca de 90% dos brasileiros no mercado de trabalho lidam com algum grau de ansiedade e quase metade sofre de depressão, segundo dados da Internacional Stress Management Association, organização internacional voltada à pesquisa e desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo. O Fórum Econômico Mundial estima que os gastos relacionados a transtornos emocionais e psicológicos podem chegar a US$ 6 trilhões até 2030. Atualmente, eles são a segunda causa de afastamento do trabalho.
A indústria está atenta a esses números. E o Centro de Inovação SESI Fatores Psicossociais, em Porto Alegre (RS), desenvolveu e colocou à disposição das empresas brasileiras de todos os portes e setores o aplicativo Gestress. Nesse app, trabalhadores podem monitorar individualmente o próprio nível de estresse, por meio de oito dimensões emocionais e cognitivas básicas. Essa ferramenta busca reduzir o estresse em trabalhadores das indústrias. Além disso, também permite à empresa ter um mapa da situação emocional no ambiente de trabalho. O app pode ser acessado pela Plataforma Nacional de Inovações SESI.
O Gestress foi possível devido à parceria do Centro de Inovação com indústrias, nas quais ele foi aplicado como projeto piloto. A exemplo da Fruki, fabricante de refrigerantes e cervejas de Lajeado (RS). O teste foi feito com cerca de 200 líderes e profissionais da parte administrativa, que usaram o Gestress por 45 dias. Nesse período, os participantes trabalharam o estresse e o equilíbrio emocional com exercícios práticos, técnicas psicológicas e produção de um diário para registro de emoções do cotidiano.
“Foi uma experiência positiva, que com certeza teve impacto na qualidade de vida dos funcionários”, conta o coordenador de saúde e segurança do trabalho da Fruki, Paulo Sérgio Labres. Os resultados mostraram uma redução, entre os participantes, de 9% da vulnerabilidade ao estresse e à ansiedade. Segundo Labres, a empresa planeja voltar a utilizar o Gestress periodicamente.
“O Gestress é um aplicativo ágil e simples. O usuário passa por uma série de 35 sessões, em que é convidado a se exercitar e vai evoluindo ao longo dessas sessões”, explica a gerente do Centro de Inovação SESI em Fatores Psicossociais, Letícia Lessa. “Existem outros aplicativos com a mesma finalidade, mas com alta adesão e baixa manutenção. Ou seja, o usuário não dá continuidade ao uso. Para evitar isso, no caso do Gestress, fazemos interferências periódicas”.
GESTÃO DE FATORES PSICOSSOCIAIS – Além de tecnologias para o auto-cuidado e controle do estresse, o Centro de Inovação aposta fortemente em projetos que insiram os fatores psicossociais na estratégia dos negócios. Em parceria com a indústria metalmecânica Bruning, localizada em Panambi (RS), desenvolveu metodologia que envolveu desde a capacitação dos líderes para o tema e aplicação de diagnóstico com os trabalhadores para ajudar a empresa identificar os fatores de risco e de proteção psicossocial no trabalho. A partir desse mapeamento, é desenvolvido plano de ação com indicadores para monitoramento dos programas.
Para atender à demanda de informações sobre fatores psicossociais no trabalho exigidas pelo eSocial – sistema eletrônico do governo para envio de informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais –, o Centro de Inovação desenvolveu ainda o PsicoErgo, uma metodologia de levantamento de riscos psicossociais para compor a análise ergonômica do trabalho. A solução integra o SESI Viva+, plataforma de inteligência em segurança e saúde no trabalho, e está disponível a empresas que adquirirem a tecnologia.
TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS – O Centro de Inovação SESI Fatores Psicossociais foi inaugurado oficialmente em 2017, absorvendo uma expertise que o SESI no Rio Grande do Sul desenvolve desde 1995, por meio do Programa de Prevenção ao Uso de Drogas e sua atuação com assessoria psicossocial, que passaram a ser referência nacional. “Desenvolvemos soluções a partir de pesquisas que indiquem necessidades da indústria e tendências, em colaboração com instituições de ensino, nacionais ou internacionais, indústrias e startups”, explica Letícia.
O foco dessas pesquisas são os fatores psicossociais que determinam ou não a ocorrência de transtornos como depressão, ansiedade, estresse e dependência química. Esses fatores têm múltiplas causas e podem ter relação com o contexto do trabalho – como ritmo e carga de trabalho, relação com a chefia, nível de cobrança, significado do trabalho, entre outros – e com o estilo de vida do indivíduo, entre os quais gestão financeira, equilíbrio vida-trabalho e administração de problemas pessoais.
Atualmente, os chamados transtornos mentais e comportamentais atingem 30% dos trabalhadores ocupados em todo o mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). No Brasil, eles são hoje a terceira causa de afastamentos do trabalho e, em dois anos, passarão à primeira posição, de acordo com previsão da própria OIT.
“Os fatores psicossociais podem ser de proteção ou de risco. O modelo de gestão, por exemplo, poderá ser um fator de proteção se a liderança mantiver com a sua equipe um bom processo de comunicação, definição de papeis e responsabilidades e processos que promovam a autonomia das pessoas. Do contrário, pode ser um risco”, explica Letícia Lessa. Cabe às empresas, portanto, identificar esses fatores no dia a dia, reforçando os de proteção e minimizando os de risco.
Da Agência CNI de Notícias